Conheça a história de Tuíra Kayapó, a guerreira indígena que luta pelos direitos do seu povo.

abril 19, 2022

O povo indígena sofre diariamente com apagamentos históricos em prol do lucro do governo e de grandes empresas ao custo da exploração de suas terras e da violência contra seu povo. Desde a invasão portuguesa, em 1500, onde terras indígenas foram ocupadas e deram lugar ao que conhecemos hoje como o Brasil, a população indígena foi uma das que mais sofreram com a violência do homem branco, apropriações históricas e apagamentos de sua cultura, que com muitas dificuldades, resistem nos dias de hoje.

Dentro de diversas tribos, temos pessoas icônicas, que serviram e servem de inspiração com sua luta e imposição diante do sistema, e uma delas é Tuíra Kayapó.

Foto: Mídia NINJA

Tuíra é integrante das tribo dos Caiapós, que é dividida em vários subgrupos espalhados pelo Brasil. A tribo de Tuíra fica localizada na região do Amazonas, que é marcada com a revolta dos indígenas em busca da demarcação de suas terras, para a preservação de seu povo e sua cultura, onde o governo demonstrava interesse em construir usinas hidrelétricas no local.

Fotografia de tuira cayapó
foto:  Paulo Jares, durante o 1º Encontro dos Povos Indígenas do Xingu (1989)

Uma das cenas mais marcantes em que Tuíra foi protagonista, ocorreu em 1989. Logo após a promulgação da Constituição de 1988, os indígenas conseguiram avançar no diálogo sobre a demarcação de suas terras e articulavam suas opiniões e demandas em reuniões, como o 1º Encontro dos Povos Indígenas do Xingu, que aconteceu em Altamira, no Pará, em 1989.

Um dos representantes do governo na reunião era o engenheiro José Antônio Muniz, que estava a frente da construção da usina no Xingú. Essa construção era extremamente prejudicial para os indígenas, pois suas terras e toda a sua história ali estavam ameaçadas. Sua construção tiraria parte das reservas indígenas e os deixariam sem terras e com sua história apagada. Tuíra, como forma de resistência e de mostrar que não aceitaria passivamente as imposições do governo que envolviam suas terras e seu povo, se aproximou diversas vezes dele com o seu facão, cena que foi fotografada e se tornou um símbolo da resistência indígena que rodou todo o mundo.

A atitude de Tuíra colaborou para que o governo parasse de ter uma imagem pacifista em torno dos indígenas e mostrou que lutas poderiam ocorrer caso seus direitos não fossem respeitados.  Tuíra se posicionou contra o engenheiro, o chamando de mentiroso, já que sabia que a construção da hidrelétrica não teria nenhum benefício para as terras da reserva. Com Tuíra provando seu ponto, o governo perdeu o investimento que teria para construir a usina.  Assim, Tuíra e seu povo conseguiram atrasar a construção da usina de Belo Monte em suas terras por mais de 10 anos, mas que veio a acontecer posteriormente. 

Em entrevista ao portal Amazônia Real, sobre sua ação naquela data, Tuíra disse:

“Eu só queria mostrar a ele o que é opressão. Estava lá e só ouvia aquele homem branco insistindo em uma fala para construir a hidrelétrica.”

30 anos depois, em 2019, Tuíra ressurge com todo seu protagonismo e potência durante a 15ª edição do Acampamento Terra Livre, em Brasília, onde eram abordados assuntos em relação a exploração de madeira e minério em suas terras.

Tuíra, atenta ao que todos falavam, entoou com sua voz potente, um canto. Tuíra nunca falou português ao se comunicar, sempre falou a voz de seu povo, sua língua nativa. Neste dia, no que parecia ser um misto de dor e revolta, se impôs contra as mudanças que afetariam suas terras, sua origem e sua cultura.

Tuíra Kayapó é símbolo vivo da resistência indígena, líder de seu povo e guerreira, que não se mantém alheia nem passiva à transformações que podem apagar sua origem. 

Continue resistindo, Tuíra!


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