Conheça a história de Ruby Bridges, a primeira criança negra a frequentar uma escola de pessoas brancas nos EUA.
Afroempreendedorismo agosto 26, 2020
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Colagem digital por @mariarosa.art |
Ruby Nell Bridges nasceu em 1954, no ano em que a lei "separados mas iguais", de segregação racial nos EUA foi revogada.
Simbólico, mas não tanto quanto as inúmeras situações que Ruby passou simplesmente por ser uma criança negra.
A mais velha em uma família de 6 irmãos, se mudou junto com sua família para a cidade de Nova Orleans, quando tinha 2 anos, em busca de melhores oportunidades de vida. Mesmo com o "teórico" fim da segregação racial nas escolas dos EUA, o estado da Louisiana se opôs ao decreto durante muito tempo e manteve suas escolas sem nenhuma participação de pessoas negras até o ano de 1959.
E provavelmente não foi por falta de tentativas. Pelo gigantesco racismo e desrespeito com pessoas negras na época, um teste havia sido criado como pré-requisito para que as crianças negras fossem testadas e caso fossem capazes de passar, o ingresso nessas escolas era permitido.
Nessa época, pessoas negras e brancas eram separadas pelo racismo e por falta de boas oportunidades na vida. As escolas para pessoas brancas ficavam em locais próximos aos centros urbanos e as escolas para pessoas negras, próximas às periferias. O ensino, por conta da precariedade e falta de investimento era inferior.
Ruby prestou o teste e foi a única entre apenas 6 crianças aprovadas que se matriculou em uma dessas escolas, a William Frantz Elementary School. Por insistência de sua mãe, que lutava para que seus filhos tivessem melhores oportunidades e uma educação que proporcionasse isso.
No dia 14 de novembro de 1960, um dia histórico, Ruby chega à escola escoltada por 4 policiais federais e uma multidão de pessoas brancas enfurecidas por ver uma criança negra ocupando um lugar majoritariamente branco. Neste dia, Ruby precisou ter força para lidar com injúrias, xingamentos e uma enorme rebelião de pais, professores e adolescentes que estudavam na escola.
A fotografia feita por Norman Rockwell, é uma das fotos mais icônicas da história. Os policiais em depoimento disseram que mesmo com tudo que aconteceu, Ruby nunca chorou e nunca reclamou das coisas que aconteciam com ela. Sempre se portou de cabeça erguida diante da rebelião que se formava diariamente na porta da escola. Os policiais a escoltaram diariamente durante o ano letivo.
A maioria dos alunos foi retirada da escola pelos pais e a maior parte dos professores se recusou a educar Ruby, que neste ano, teve uma única professora, chamada Barbara Henry, na qual Ruby ainda guarda muito carinho, pois disse que a professora foi a pessoa que mesmo semelhante a todas as outras que a xingavam, por ser branca, a ensinou com o coração e assim ela aprendeu que ninguém deve ser julgado pela cor da pele.
No ano letivo, a professora Henry lecionou para Ruby e apenas mais 4 alunos brancos, os quais seus pais optaram pela permanência na escola.
A família de Ruby sofreu diversas retaliações por conta da decisão de enviá-la a uma escola de brancos. Seu pai, Abon Bridges, foi demitido do posto de combustíveis em que trabalhava, a família foi proibida de frequentar o supermercado onde normalmente compravam; seus avós tiveram que se mudar de onde moravam e após todos esses acontecimentos, os pais de Ruby se separaram.
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Ruby Bridges ao lado da obra de uma das obras mais importantes e icônicas da Coleção do Museu Norman Rockwell. |
Já crescida, Ruby se formou em uma escola mista, trabalhou por 15 anos como agente de viagens e em 1999 criou a Fundação Ruby Brigdes contra o racismo e em prol da aceitação das diferenças. Em 1998, sua vida virou filme, hoje, disponível na Netflix, chamado "Ruby Bridges" que conta toda a sua história e escreveu um livro, chamado "Through My Eyes" (Através Dos Meus Olhos), em que conta de acordo com seu ponto de vista, tudo que ocorreu naquele ano. Por suas contribuições históricas, em 2001, recebeu das mãos de Bill Clinton, presidente dos EUA na época, a medalha de honra destinada a cidadãos memoráveis.
As contribuições históricas de Ruby Bridges em favor das pessoas negras e contra o racismo jamais serão esquecidas.
REFERÊNCIAS:
https://web.archive.org/web/20120511010423/http://rubybridges.com:80/story.htm
https://www.ebiografia.com/ruby_bridges/
https://www.womenshistory.org/education-resources/biographies/ruby-bridges
https://www.geledes.org.br/a-pequena-ruby-bridges-e-a-historia-do-racismo-nos-eua/
Atualmente com todas as revoltas e reivindicações por igualdade racial, temos que cada vez mais nos desconstruir e evitar propagar discursos que são além de racistas, antiquados e que não refletem em nada o nosso desejo de progresso quanto a nossas questões.
Por isso, no post de hoje trouxemos algumas expressões racistas que você precisa parar de falar IMEDIATAMENTE. Elas são totalmente desrespeitosas e podem ser trocadas por palavras diferentes, sem qualquer cunho racista e ainda manter o contexto do que quer ser dito. Esperamos que este post seja um guia pra você sempre consultar caso reproduza ou veja alguém reproduzindo.
Ser assertivo e repreender/evitar propagar ações racistas é uma forma que você, antirracista, pode ajudar na causa, independente de sua cor.
Algumas das expressões a seguir foram compartilhadas em nosso perfil do instagram, o @arte.de.maria. Siga para trocarmos experiências e histórias por meio da papelaria de resistência.
1 - Mercado Negro
Assim como em outras expressões como: “ovelha negra”, “lista negra” e “humor negro”, a palavra Negro na expressão representa algo ruim, ilegal. Você pode se referir ao mercado apenas como “ilegal”, por exemplo.
2 - Boçal
A expressão que é utilizada para se referir a pessoas “burras”, ou ignorantes, era usada antigamente para se referir a negros escravizados que chegavam no Brasil da África sem saber falar o português.
3 - Criado Mudo
O tão conhecido móvel que fica na beira da cama tem um significado extremamente racista e doloroso por trás. Criados mudos eram negros escravizados que tinham o papel de segurar coisas para seus donos, já que não podiam fazer qualquer barulho, eram considerados mudos. Que tal chamar seu móvel de pequena cômoda, ou armarinho? O significado se mantém e você deixa de reproduzir um discurso racista.
4 - Eu não sou tuas negas
Na época da escravidão, as mulheres negras sofriam inúmeros assédios, estupros e eram tratadas de forma desumana. O tratamento com brancas não era o mesmo, portanto, sempre quando utilizavam dessa expressão, era uma repreensão para não ser tratada de forma tão ruim, assim como as negras eram tratadas. Neste caso, você pode deixar de usar esta frase de cunho racista e apenas dizer “não me trate desta forma”, ou “eu não gosto dessa forma que você me trata”.
5 - Denegrir
Sempre que alguém utiliza desta palavra, é no sentido de ser difamado ou caluniado de forma que prejudique sua reputação. No entanto, tornar-se negro, não deveria ser algo pejorativo, portanto, é de cunho extremamente racista. Você pode usar a palavra “difamar”, neste caso.
6 - Inveja Branca
Quando alguém diz: “estou com inveja branca de você”, é no intuito de tornar a inveja algo bom, puro e sem maldade. É uma expressão racista, pois prejulga que tornar-se branco alguma coisa, seria algo bom, ao contrário de negro. Caso você precise utilizar essa expressão, diga que a sua “inveja”, é sem maldade.
7 - A coisa tá preta
Assim como na expressão anterior, tornar algo preto ou negro, seria dizer que este algo é ruim. Para evitar propagar esta expressão racista, basta dizer que a “coisa está ruim”, ou “a situação se complicou”.
8 - Dia de branco
Usar a expressão “amanhã é dia de branco”, é extremamente racista e desrespeitoso, pois o sentido original dela quer dizer que brancos trabalham muito e coloca negros como preguiçosos e ruins de trabalho. Vai trabalhar amanhã? Basta dizer isso. Fica bem mais simples até, não é?
10 - Serviço de preto
Na intenção de difamar o trabalho feito pelos negros escravizados, essa expressão era empregada quando por tamanha exaustão e sofrimento, algum dos serviços impostos pelos donos não era feito adequadamente. É uma triste e preconceituosa forma de falar que o trabalho foi mal feito. Não use essa expressão! Apenas diga que o trabalho foi feito de forma inadequada.
11 - Da cor do pecado
Utilizada como elogio, se associa ao imaginário da mulher negra hiperssexualizada. A ideia de pecado também é ainda mais negativa em uma sociedade pautada na religião, como a brasileira.
12 - Negro de “beleza exótica”
Tudo que foge ao padrão eugenista de beleza e europeu de costumes é chamado de algo “exótico”. Por isso é extremamente racista e inadequado chamar a beleza de alguém como “exótica”, apenas por não seguir padrões estéticos europeus.
13 - Cabelo ruim, cabelo duro
Forma triste e extremamente racista usada para se referir ao cabelo dos negros. Apenas por diferenciar de padrões europeus, nosso cabelo não é ruim, nem duro, nem “bombril”. Nosso cabelo é crespo, com particularidades como qualquer outro tipo de cabelo e que deve ser respeitado como tal. Para falar do nosso cabelo, use o termo que você usaria para falar de um cabelo liso, por exemplo. “liso, cacheado, crespo”.
14 - Mulata
Mulata faz referência a mula, um animal que é fruto do cruzamento do jumento com a égua e nasce estéril, sendo considerada um animal sem utilidade. Negros mestiços, frutos de estupros, eram chamados assim pois eram considerados inúteis.
15 - Moreno (a)
Chamar alguém de moreno, ou morena, é uma forma de tentar invisibilizar sua raça por conta de uma sociedade racista, que sempre quis impor a eugenia como padrão social e negar a existência de negros e mestiços. Ao empregar o moreno, para se referir ao negro, é uma tentativa de negar a sua raça e “clarear” sua origem. Para se referir a mestiços, use a palavra mestiço, ou a raça que a pessoa pertence. Branca ou negra.
16- “A dar com pau”
Expressão originada nos navios negreiros. Muitos dos capturados preferiam morrer a serem escravizados e faziam greve de fome na travessia entre o continente africano e o Brasil. Para obrigá-los a se alimentar, um “pau de comer” foi criado para jogar angu, sopa e outras comidas pela boca.
17- Meia tigela
Os negros que trabalhavam à força nas minas de ouro nem sempre conseguiam alcançar suas “metas”. Quando isso acontecia, recebiam como punição apenas metade da tigela de comida e ganhavam o apelido de “meia tigela”, que hoje significa algo sem valor e medíocre.
18- Doméstica
Negros eram tratados como animais rebeldes. Recebiam diversas punições para serem “domesticados”. Para se referir a pessoas que fazem serviços domésticos, você pode usar o nome da pessoa, por exemplo: “A pessoa que trabalha em minha casa”, ou “A pessoa que cuida da faxina”, “que cuida do jardim”. Não use a palavra “doméstica” sozinha, pois é racista.
19- Feito nas coxas
A origem da expressão popular "feito nas coxas" deu-se na época da escravidão brasileira, onde as telhas eram feitas de argila, moldadas nas coxas de negros escravizados. Como eles tinham diferentes portes físicos, as telhas saíam de diversos tamanhos. Sendo uma forma de colocar ao negro como algo ruim e mal feito, é uma expressão racista.
O que achou das expressões acima? Evite reproduzí-las e fortaleça o movimento antirracista compartilhando esse texto com todos que devem saber.
Mulheres de luta: a história de mulheres guerreiras que fizeram parte da luta feminista
Angela Davis junho 13, 2020
Representações e re-existências que transpassam o tempo, potencializando nossa voz e ressignificando nossa história.
Represento através da arte, contando histórias e resignificando nossa fala, mulheres que por racismo e/ou machismo foram apagadas e por sua vez, não tiveram ou não tem escuta dentro da nossa sociedade. Exalto mulheres de força, que foram e são extremamente importante para o nosso crescimento como mulher e como mulher negra.
Abaixo alguns nomes que já foram representados ou ainda são:
Abaixo alguns nomes que já foram representados ou ainda são:
Entrevista: Empreendedorismo Negro, com Maria Rosa, da Arte de Maria.
Afroempreendedorismo junho 08, 2020![]() |
Créditos: Chapati Imagens |
Ter uma estabilidade financeira e estruturar uma marca não é uma tarefa fácil, sendo mulher e negra no Brasil, torna isso uma tarefa ainda mais difícil. Com lutas diárias para ser ouvida dentro de uma sociedade racista, machista e em busca de sua emancipação, hoje vamos saber um pouco da história de Maria Rosa, criadora da marca Arte de Maria, uma empresa de papelaria, uma das maiores do segmento papelaria de resistência, que conta, em seus produtos, histórias de luta e resistência de mulheres, principalmente mulheres negras, que foram e são relevantes para nossa luta de emancipação negra e feminina.
Em suas artes retrata com sensibilidade política e estética, personalidades como Dandara, Aqualtune, Conceição Evaristo e outras mulheres da história, da escrita e do cinema.
A marca que conta com mais de 17 mil seguidores no instagram, exibições em programas como o Encontro com Fátima Bernardes, já apareceu em postagens de artistas como Lázaro Ramos e Leandra Leal.
Como surgiu a Arte de Maria? Qual foi sua principal inspiração para decidir criar a empresa?
Maria Rosa: Quando me formei, busquei reconhecimento como artista, queria que as pessoas conhecessem o que eu faço. Queria que minha arte pudesse fazer a diferença, porém percebi que buscar esse reconhecimento daquela forma não seria possível. Percebi que no mundo das galerias e editais existe muito interesse e eu, sem influência alguma, nunca conseguiria algo relevante e principalmente rentável a ponto de suprir minhas necessidades financeiras de mulher negra periférica que cresceu à margem da sociedade. Naquela época trabalhava como designer para uma empresa e sempre me questionava também o fato de não ter meu trabalho valorizado.
Sempre pensava que se dedicasse aquele tempo pra promover o que eu faço e amo, ganharia muito mais, pra mim não tinha erro, então decidi criar a marca, unindo amor, informação e emancipação. Aplicando minhas artes em produtos úteis conseguiria o objetivo de levar minha arte até a casa das pessoas, levando com ela também uma informação.
Com a marca levo a representatividade que não tive, conto histórias que tive que descobrir sozinha e falo sobre consciência que devido as minhas limitações sociais conquistei depois de adulta. Tento fazer a diferença, tornando mais acessível esse diálogo.
“Maria” somos todas nós mulheres. Minha militância é por raça e gênero e conto história de mulheres que potencializaram nossa voz ao longo da história. Com grande foco em nós, mulheres negras.
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Caderno argolado Chimamanda Ngozi Adichie || Créditos: Chapati Imagens |
Maria Rosa: Sendo uma mulher negra à margem encontrei muitas, a principal é a descredibilidade que a sociedade coloca nas nossas costas. A idéia de que se eu estou vendendo algo feito a mão em alguma feira ou evento, estou “vendendo o almoço pra pagar a janta”. Bati de frente com algumas situações racistas. O fato de que o meu trabalho é profissional fazia com que algumas pessoas chegassem a duvidar se era eu mesma que fazia.
Tem também o fato de que com o tempo, comecei a me reconhecer muito mais e enxergar cada vez mais a necessidade de focar na negritude e meu trabalho começou a ficar muito mais negro e com isso veio as situações em que pessoas brancas deixavam de comprar dizendo que “é lindo mas eu sou branca” ou “é lindo mas quem vou presentear é branca” e nunca houve a possibilidade de diálogo. Daí passou a além do fato de ser negra e isso me impossibilitar ou tentar me impossibilitar acessar determinados espaços ou ascensões, minha negritude começou a ficar impregnada no meu trabalho também e com isso a dificuldade em vender.
Qual foi a sua maior conquista dentro da marca?
Maria Rosa: A emancipação e de fato o reconhecimento como artista. Viver de arte!
Hoje posso dizer que vivo de arte e conquistar isso é uma vitória muito grande pra mim.
Meu trabalho com a marca é minha única fonte de renda e cada evolução pra mim é uma conquista porque minha empresa também é o meu lado mais íntimo.
Você foi exibida no programa Encontro com Fátima Bernardes, conta pra gente como foi?
Maria Rosa: Quando fui contactada não acreditei rs
Pesquisei pra saber se aquela pessoa que me procurou era real e se realmente trabalhava para a rede Globo.
Fui encontrada pelo meu trabalho com a Arte de Maria e convidada a ter minha arte exibida no programa durante uma semana. Topei na hora, claro!
É uma conquista que nunca imaginei que conseguiria, ser reconhecida nacionalmente e fazer com que minha família me assistisse em rede nacional, não tem preço.
Como você vê o futuro da sua marca com o passar do tempo?
Maria Rosa: Os objetivos são bem certeiros.
Quero crescer e me tornar uma empresa que emprega mulheres minorias, quero ser uma rede de apoio e conseguir fazer a diferença para além da informação.
Sabe a história da Madam C.J. Walker? que além de se emancipar, ajudou tantas outras mulheres pretas a se emanciparem junto? essa é minha missão!
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Caderno Argolado Carolina Maria de Jesus Créditos: Chapati Imagens |
Maria Rosa: Acredite no seu potencial.
Vão surgir muitos obstáculos e você precisa ser forte e determinada para levantar e seguir mais forte que antes. Você vai precisar trabalhar mais que o normal mas será gratificante se você estiver fazendo o que ama e de coração aberto.
Uma dica técnica é que você precisa ter uma organização extrema, de tarefas e financeira, ter sempre em conta os seus gastos e sempre reveja seu lucro em cima do “valor” do seu trabalho, para ser valorizada você precisa entender qual é o seu valor. Esse cuidado é essencial para que seja sempre rentável e prazeroso.
Entrevista: Gabi Barbosa