Quem foi Xica Manicongo?
Arte: @mariarosa.art |
Xica Manicongo tem sua origem atrelada ao país Congo/África e chega ao Brasil como escravizada. Aqui foi registrada
pelos colonizadores como Francisco. É vendida
a um sapateiro na cidade onde hoje chamamos de Salvador, na Bahia do século XVI. Com isso trabalhou com o
mesmo oficio, ficando conhecida nas ruas da cidade baixa pela sua altivez
e por ser namoradeira. Embora sua história,
como muitas, tenha
sido atacada levando,
por muito tempo, ao seu apagamento, ao que tudo indica ela foi a primeira mulher
trans do Brasil. Ou, pelo menos, a primeira julgada legalmente
pelo fato de sua existência.
Seus registros de vida são atravessados pela história da
inquisição no Brasil. Sua história
passa a ser resgatada através da pesquisa de Luiz Mott sobre a perseguição aos sodomitas (sodomia
– pratica de sexo anal). Xica foi enquadrada
nesse crime que, por um tempo, chegou a ser um crime de lesa majestade. Os condenados eram queimados vivos.
Luiz Mott, ao pesquisar documentos oficiais em Lisboa/Portugal,
identifica que Xica Manicongo
andava com um pano amarrado
com um nó pra frente,
semelhante a um quimbanda (termo bantu para definir
“invertido” ou “curador”). Sobre seu nome, Manicongo era uma denominação que os governantes no reino do Congo recebiam,
por isso fica a indagação: será que Xica era rainha?
Mesmo não sabendo seu nome antes do colonizador e como era
sua vida no Congo, no Brasil Xica teve sua vida cercada pela ideia de que era anormal diante
das pessoas cisgênero. Aqui sofria uma grande pressão social por ser,
além de mulher trans, preta e escravizada. Com a visita da inquisição, Xica foi denunciada à igreja. Embora tivesse resistido
por muito tempo em viver conforme sua existência, sua possível condenação à fogueira pelo crime de sodomia a fez largar
suas roupas e se vestir
como os homens
se vestiam à época.
Por séculos foi vista como homossexual. Seu nome social foi atribuído
postumamente, já que seus registros em documentos oficiais vinham com o nome de Francisco. É Marjorie Marchi,
militante transsexual negra que presidia a ASTRA-Rio (Associação de Travestis e Transexuais do Rio de Janeiro), quem passa
a chama-la pelo nome social, Francisca. A ASTRA-Rio criou também um troféu
chamado Xica Manicongo.
E, apesar das inúmeras tentativas de apagamento da história de Xica, seu nome resistiu e conseguiu ser um sinônimo de resistência, luta e inspiração para muitas transexuais no Brasil.
Hoje somos seguidoras de Xica
E fazemos a
cada esquina nossa labuta Não à toa usamos o cordel
Em memória
ao nordeste e à sai luta De tantas Severinas,
Marias, Joanas
Somos a voz
da Xica que no Brasil se perpetua! (LUSTOSA, 2017, p. 4)
Para criação deste texto, consultamos os seguintes sites:
https://averdade.org.br/2022/01/xica-manicongo-a-primeira-travesti-do-brasil-foi-negra/
https://buzzfeed.com.br/post/voce-conhece-a-historia-de-xica-manicongo